Idosa morre à espera de vaga para cirurgia em Juiz de Fora: 'Perdemos nosso pai e agora nossa mãe do mesmo jeito', diz filha
07/10/2025
(Foto: Reprodução) Idosa morre enquanto aguardava transferência para cirurgia em Juiz de Fora
A dona de casa Vânia das Graças Martins de Souza, de 68 anos, morreu na manhã de segunda-feira (6), por volta das 10h, enquanto aguardava transferência para a realização de uma cirurgia de angioplastia de urgência em Juiz de Fora.
Internada desde o último dia 30 na UPA São Pedro, ela não conseguiu vaga em um hospital com UTI e faleceu antes de receber o tratamento necessário para desobstruir as artérias do coração.
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A família conta que, na semana passada, Vânia voltou a apresentar complicações graves de saúde, como insuficiência cardíaca, má circulação e histórico de enfisema pulmonar. Há apenas quatro meses, ela passou por uma cirurgia vascular na perna direita.
Dona Vânia com as três filhas
Vanessa Martins/Arquivo Pessoal
Mesmo diante da gravidade do caso, a transferência para um hospital de referência não ocorreu. As filhas recorreram à Justiça e conseguiram uma decisão favorável na última sexta-feira (3), que determinava a transferência da paciente em até 24 horas. A liminar previa multa diária de R$ 1.000 em caso de descumprimento.
Apesar da ordem judicial, nenhuma vaga foi disponibilizada a tempo, e dona Vânia morreu enquanto esperava.
Filhas vivem dor em dobro
Filhas contaram que dona Vânia e o marido Valtencir sempre foram muito unidos
Vanessa Martins/Arquivo Pessoal
Vanessa e Glalsieni Martins de Souza, filhas da idosa, disseram à reportagem da TV Integração que, há mais de um ano, no dia 9 de setembro de 2024, também perderam o pai em circunstâncias semelhantes, enquanto ele aguardava uma vaga hospitalar em Juiz de Fora para uma cirurgia de úlcera.
“O sentimento é de impotência, porque da nossa parte nós corremos com ela e trouxemos para o hospital. Perdemos nosso pai e agora nossa mãe do mesmo jeito. Faz um ano que ele faleceu e também não conseguimos vaga”, disse Vanessa Martins de Souza, emocionada.
O enterro de Vânia foi marcado para as 13h30 desta terça-feira (7), no Cemitério Municipal de Juiz de Fora. Ela deixa três filhas, seis netos e dois bisnetos.
“O médico foi muito claro: ela não podia ficar na UPA por muito tempo, ou poderia morrer. E agora vamos enterrar minha mãe depois do meu pai. É desesperador. Espero que ninguém mais passe por isso”, desabafou Glalsieni Martins de Souza.
Dona Vânia com os netos em Juiz de Fora
Vanessa Martins/Arquivo Pessoal
Posicionamento dos órgãos responsáveis
A TV Integração entrou em contato com a Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, um dos locais que poderiam receber dona Vânia. Em nota, a unidade lamentou a morte e afirmou que recebeu o pedido de transferência apenas na segunda-feira, e que seguiu todos os trâmites exigidos pela Central de Regulação.
“Reforçamos nossa solidariedade à família e reafirmamos o compromisso permanente da Santa Casa de Juiz de Fora com a assistência segura, ética e humanizada a todos os pacientes”, acrescentou o hospital.
Já a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora afirmou que o atendimento seguiu os protocolos clínicos vigentes, com as equipes responsáveis pela estabilização da paciente desde o início, e que todas as tratativas de regulação e transferência foram realizadas conforme os fluxos do SUS.
“A Prefeitura restringe o fornecimento de informações sobre o estado de saúde dos pacientes, visando garantir a segurança e a privacidade dos mesmos, em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). No entanto, a Secretaria de Saúde ressalta que o atendimento que antecede procedimentos de transferência segue todos os protocolos clínico-assistenciais vigentes, com atuação da equipe multiprofissional na estabilização e monitoramento do quadro desde o primeiro momento para garantir a segurança dos pacientes. A Secretaria de Saúde realiza todas as tratativas para regulação e transferência, conforme os fluxos estabelecidos na rede de urgência e emergência do SUS”.
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